segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
EM FACE A...
meu delírio inventivo,
com tuas idéias
Eu sou uma utopista, sou poeta, livre-pensadora
Artista se quiseres,
Mas não tua ideía ortodoxa
Teus dogmas febris e repetidos
o teu discursivismo.
E eu não sou apenas um sonho elaborado
uma grandeza minha segredada,
Sou eu em face à inutilidade de meu objetivo.
Não me confundo ao óbvio corrente ao vulgar planejado
Eu sou uma humilde cortesia
deste mercado lírico.
Não leia em mim um texto definido
pois fiz-me em página branca do absurdo,
Não te rales na inútil tentativa de me fazer arquivo
nem tentes definir-me
Eu sou, e estamos conversados.
Anna Maria Dutra de Menezes de Carvalho
Lançamento do Livro "O Auto de Anna-A Louca - Poemas Lúcidos"...
TODOS/AS!!!
Saudações afetuosas,
João Luiz de Souza.
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
TERÇA-FEIRA, PONTUALMENTE À MEIA-NOITE, CORUJÃO DA POESIA DO LEBLON ESPECIAL!
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
SUPOSIÇÃO
Uma água vermelha.
No canto escuro
Perto do muro
Ficou um resto de água parada,
Na sala imóvel
Respira um móvel
Na pulsação de uma almofada
A chaminé que rompe o teto,
Expulsa o feto,
Da fumaça,
Dizem que fora, a vida passa.
Anna Maria Dutra de Menezes de Carvalho
BALADA DA MOÇA MORTA
Chorou pelos teus olhos ressequidos.
Sou flor de fragilíssimos tecidos
Deixando-se esmagar por teu espanto.
Eu sou a hora sem ritmo preciso
Liberta dos relógios opressores,
Terapêutica de todos os doutores
Desenganada aos males que agonizo.
Eu sou a fantasia hereditária
A um clã metafísico agregada,
Ao museu da ilusão fui condenada
Em deslumbrante eça mortuária.
Eu sou Alice no país do conto
Abraçando seu gato sonolento,
A embalar em ti, o teu tormento.
E buscando buscar teu desencontro
E na repetição tumultuosa
Da insipidez da vida repetida,
Eu sou uma quimera oferecida
A solfejar o prólogo da rosa.
E deste amor demais que a ti conforta
Eu povoei teu mundo em curto instante,
E descobriste vida palpitante
Em minha invalidez de moça morta.
Anna Maria Dutra de Menezes de Carvalho
MEU MEDO EM PAUTA
Porque em meu desatino,
Eu angustio a gritar
Um grito quase uterino!
Eu tenho medo de ser
Prostitúida de afeto,
Em meu ventre enternecer
A geratriz de teu feto.
Teu feto que nasceria
De forma tão diferente,
Gerado na poesia
De quem amou realmente.
Teu feto que não gritando
Neste meu mau andarilho,
Iria nascer cantando
A alegoria de um filho.
Um filho sim na verdade
Deste amor honesto e franco,
Um filho da amenidade
Todo vestido de branco.
Eu tenho medo de amar
De parir felicidade,
Eu devo silenciar
Meu clamor à eternidade.
Mas saiba que confessando,
Meu sonho concretizei,
Vivi a vida te amando
E ao filho que não gerei!
Anna Maria Dutra de Menezes de Carvalho
TENEBROSA (poema escolhido por Jorge Ben Jor)
como lesmas colantes e cansadas
no enleio das formas arrastadas
espojadas na baba que largamos.
Nesta desolação quase assassina
despudoradamente declarante
na grotesca figura da bacante
que a um fauno excita e alucina.
Restará um suplício encarcerado
uma insatisfação sempre disposta
uma pergunta muda de resposta
e novo sacrifício programado.
E como lesmas lentas e passivas
repetiremos gestos do não-ser
neste ardente desejo de morrer
a fingir o vibrar das coisas vivas.
Anna Maria Dutra de Menezes de Carvalho
CISÃO
Colocaram na noite uma mordaça.
Uma única sombra vai cansada
Bailando como um risco de fumaça.
A tristeza invulgar eu cego à vista
Neste pesar discreto e me aprofundo
Ao constatar que só um ser artista
Desvenda a morte que ameaça o mundo!
Anna Maria Dutra de Menezes de Carvalho
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
DO SER
não era uma fome igual à fome de todo o homem,
era uma fome de espaço
de liberdade total
Uma fome de valores infinitos ressomados
de universos estrelados
de cosmos primordial.
Em seu desejo silente ele voava sozinho
Nuvem surpresa de ninho
Nave presença de Deus
Era gaivota planando, cometa bissexto em arco
Constelação, grande barco,
em fantástico himeneu.
Amava luas crescentes
Pôr-do-sol ao pé do abismo,
Perdera seu ceticismo no delírio do vagar
Pousava sobre carneiros de lã etérea e dispersa
E como o poema versa
Ele versava a voar.
Não era ele homem exato
Nem tão-pouco equivalente
Era um homem diferente
Em seu anseio abstrato.
Portanto a fome sentida, sofrida, dilacerada
era uma fome do nada
uma fome refletida.
Era um pássaro divino
circunscrito à eternidade
Era um gigante menino
perdido ao texto da idade
Mas a fome ali guardada
era quase insaciável
mastigante, insuportável,
perseguida, alucinada.
Então vencendo uma pauta
entre o infinito e o fatal
Invadiu seu próprio ser, imenso, sensorial
E como luz que se acende, ilumina, sobressalta
ele gerou-se igualdade
no grande vácuo estendido
Foi água de santidade
Evangelho oferecido
Foi tese de honestidade
Foi risco de divisão
Foi o punhal da verdade
Foi o mastro da razão
Foi planeta de cristal
Fonte da Ninfa de Elfos
Ogiva de Catedral
Foi habitante de Delfos.
E como sabia tanto do pouco que descobrira
a fome que amansa o louco
fez-se em lira,
E como homem-heloim
ser do espaço, anjo, esteta,
encontrou princípio e fim
Foi poeta.
Anna Maria Dutra de Menezes de Carvalho
A GORDA
as nádegas leais ao teu assento
és toda o mais cruel depoimento
da tua via em muito dissoluta.
Arrastas o pesar tão bem cevado
da hostilidade de teu corpo vasto,
farias as delícias de um repasto
a rolares nas brasas como assado...
Teus braços, ah teus braços de masmorra
no gigantismo que fenomenal
faz de ti quase um ser espectral
onde o toucinho como um rio corra,
Tuas ancas, imensas, imorais
adornadas a sebo volumoso
faz de ti este porco majestoso
com olhinhos tristonhos e venais,
E teus peitos! meu deus quanta fartura
quando a miséria ministra labor,
uma parcela do seio que for
levava a fome de Biafra à cura.
E esta tua barriga besuntada
ao orgasmo da banha poluída
vibrando a gargalhada destemida
em tua larga boca enxovalhada.
Ah gorda, como és gorda concluída,
Como és justamente tão completa,
Tu és redonda em roda concreta
alimentada ao resto desta vida.
Ah gorda distraída de seu fado
a arrastar seu corpanzil gigante
sem ter preocupação um só instante
que és mulher embaixo deste fardo.
Ah gorda como podes gargalhante
levar a vida em tom de brincadeira
se ouço respirar tua canseira
no continente de teu peito arfante.
É talvez por mistério navegante
deste teu monstruoso aparentar
que seja justo o nosso reclamar
à beleza invulgar de teu amante,
sim, porque este presunto impermissível
traz um amante preso à chispalhada,
com a cara feliz e deslumbrada
a este mastodonte flexível.
E nós as magras bem constituídas
ralamos uma inveja desleal
desta tua gordura colossal
ao som das gargalhadas sacudidas!
Anna Maria Dutra de Menezes de Carvalho
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
sexta-feira, 24 de julho de 2009
E O ESTRIBILHO FINALMENTE DEIXA O CÁRCERE E ECOA!
Em pleno dia do amigo, 20 de Julho, a noite coruja foi tomada pela emoção que a presença da autora transmite, ao lado de seus familiares, amigos e uma pláteia ávida por melhor conhecê-la.
Confira abaixo, alguns dos registros feitos por Julio Pereira:
























Quer ver mais? Clique!
http://picasaweb.google.com/julioinx/CorujaodaPoesia090721
domingo, 19 de julho de 2009
AMANHÃ, NO CORUJÃO DA BARRA, ANNA MARIA DE CARVALHO EM NOITE HISTÓRICA!
sexta-feira, 17 de julho de 2009
DO VERBO MENTIR
Mentira mentiu, mentia
Que amava certa Maria,
Que fingia acreditar.
Mas na verdade enganava
A pobre amada que amava,
Mentindo, tudo aceitar.
Um dia fez-se verdade
A sua infidelidade,
Não mentiu ao confessar
Que toda a vida mentira
Amor que nunca sentira,
Sentindo muito enganar.
Mas, a Maria enganada,
Não chorou desesperada
E simplesmente aceitou.
Pois na verdade ironia,
A moça também mentia,
E ele nunca acreditou.
Anna Maria Dutra de Menezes de Carvalho
A LEMBRANÇA DA COISA
Incontáveis, incontáveis dias de vivência!
Faz muito que perdi minha inocência
No sótão da casa de minha infância.
E nos jardins coalhados de cravinas
Jogamos nossas prendas de meninas
Despuradoras à infantil ganância.
No esconde-esconde, o ermo procurado
Junto ao vale do rio acelerado,
Meu Deus, quanta emoção!
Quando das bocas, descobrindo beijos
Descobrimos também nossos desejos
No sôfrego da mão.
E vai do tempo em cérele jornada
A lembrança da cosa renovada
Em coisa não de infante,
Em Paquetá a areia adormecida
E sobre o alvo plano se estendia
Um amor mais prestante.
Depois, novos desejos bestiais
Cavalgaram no lombo de animais
Assustadoramente.
Amazonas belíssimas, as primas,
Como corcéis roçavam suas crinas
Alucinadamente.
Belo do belo, em verde me espantava,
Cachoeira que erótica espumava
A adolescência nua,
E de um efêmero de paraíso
O nosso riso ria até ao ciso,
À baderna da lua.
Depois circunspectos lirismos
Contaminaram-nos a ceticismos
Dos amores de açudes.
E nossas corredeiras violadas
Por grandes diques foram sufocadas
A atitudes de beatitudes.
Dos socavões, das moitas, dos caudais,
Estas nossas heranças ancestrais
Estão nos espiando.
E nós libérrimas rumamos silentes
A metodisação dos pacientes
Até quando, até quando?..
Anna Maria Dutra de Menezes de Carvalho
A ROSA EM TEMPO DE CHALEIRA
E com a sutileza de um porta
Plantou a rosa ao bico da chaleira...
A rua muito longa e muito reta
Em tempo de ladeira,
Carregava o vazio de meu corpo.
Tempo morto
Hora morta
Bato à porta
Ele atende
E da chaleira a rosa se desprende.
Eu quisera morrer serenizada
Á porta, ali ficar plantada
Eternamente em floração rochosa
Como ficou a rosa.
Mas esta coisa, o medo, me desgasta,
Tudo de mim se transformou em pasta
Que escorre pegajosa
Disforme e odiosa.
Fujo no tempo exato da alegria
Correndo na ladeira que descia
Afim de meu espanto,
Subir custara tanto...
Descer custou tão pouco...
Que sensação de louco
Ó que metamorfose alienada
Sentir-me ali parada
À boca da ladeira
Igual a rosa ao bico da chaleira...
Anna Maria Dutra de Menezes de Carvalho
TEMPO DE ÁGUA
A minha boca, musgo ressequido
Ao sentir água nova
Fará do vale estéril de meu corpo
Margens do Nilo,quando ressurreitas.
De meu ventre nascerão flores rubras
Eriçando seu garbo a céu aberto.
Minhas entranhas de água s dormidas
Rolarão ao fragor dos grandes rios,
E todos os sentidos destilados
Afogarão a sede secular
De meu pobre deserto sem oásis.
O meu tempo de água, fez-se à vista.
As miragens de meus olhos sofridos
Estão cristalizadas.
Aprendi mitigar todas as sedes
E quero que me bebas.
Anna Maria Dutra de Menezes de Carvalho
EXUMAÇÃO
Ficou sozinha em mundo povoado
E pateticamente compreendeu
Que toda humanidade fora um Eu,
Seu próprio Eu a ela encarcerado.
Sentiu feri-la estéril e improdutiva
Semeadura em terra malsinada.
O que plantou não procriaria nada.
Rendeu-se a uma derrota decisiva.
Depois eliminada ao caos da idade
Chorou amargamente a desventura,
Cravou na terra calcinada e dura
Um coração vencido de bondade.
Metamorfoseada em linha agônica
O sexo doou a metafísica.
Sofreu hemoptise a idéia tísica
Vomitou sangue a poesia crônica.
Anna Maria Dutra de Menezes de Carvalho
O OGRO
No vargedão é tempo de interlúnio
Erva – pombinha morde a pedra dura
E vai beber do rio rojador.
Escura que nem breu lá vem a noite
E dentro dela boca escancarada
O ogro que Etelvina me inventou
“Come donzela
Come carneirinho
E sempre sente fome o escunjurado”
A blandícia da brisa que vagueia
Faz um perfume bom dentro do quarto
Escuto a gemeção vinda de baixo
Do carpimento à minha avó defunta.
Eu sou feliz demais para ser triste
Mordo a laranja cheia de desejo
O caldo escorre pelo queixo abaixo
A refrescar-me os seios prisioneiros,
Sumosa que nem beijo bem sugado.
Naquela casa mora o mau momento
Cheirando a vela e resedá do campo.
O boqueirão noturno me apavora
E dentro dele a saparia ativa
Enxovalha com lúbricos chamados
A compostura da morte presente.
Minha avó, bibelô de porcelana,
Descansa sobre tufos de filó.
Tive a impressão de vê-la escarnecendo
Aquele pranteado familiar
Que me obrigou virar um terço inteiro
Rosnando padres-nossos sopitados.
“Reza menina que o ogro não perdoa
Quem é hereje junto de defunto”
Etelvina de tetas gigantescas
Macumbeira, e cristã nos desacertos.
Depois plantaram minha avó no brejo
Entre os alagadiços mal cheirosos
À sombra dos salgueiros abismados,
..............................
Talvez por isso, antes chorassem tanto.
Melhor seria ter chegado o ogro
E ter levado minha avó pro longe
Junto às ossadas de seus carneirinhos
E o tédio das donzelas serenado.
Anna Maria Dutra de Menezes de Carvalho
DISSONANTE
A felicidade em porcelana azul-monotonia
Pousa em teus lábios compassivamente.
É hora do café Nataniel, não chora
Pois a segunda-feira foi urdida
Como protesto ao tédio domingueiro
Com pai e mão galinha e guaraná.
É hora de voltar ao absoluto
Reencontrar a arquitetura hipótese
Montada entre os varaus do sentimento
Beber água tangida na goteira
E seguir o riacho da sarjeta
À caminho da fácil vida urbana
Dissoluta, perdida, estraviada
Do destino exato que te traçaram ontem.
Bebe café Nataniel carinho, bebe de manso
E aquece o teu corpo consumido
De tosse e sacrifício,
Pois a vida lá fora anda gritando
O nome do inexato sem vivência
Que se perdeu pelo cotidiano
A esquecer-se das obrigações
Madrugáveis, amantes e viventes
E enrodilhou-se ao cobertor listrado
A mastigar o pão venturoso.
E tão família fez-se que olvidou-se
Que era Nataniel o sem ninguém
E com destino apropriado ao largo
Vadio, solitário, insatisfeito.
Toma café Nataniel e parte
Pois não te posso ver neste quadrante
Despertencido ao tempo de família
A mim que não te quero e despercebo
Tua existência entre xarope verde
E os noturnos vagantes dispersados
No teus passos incertos e gemidos.
Toma café Nataniel, e parte!
Anna Maria Dutra de Menezes de Carvalho
RETORNO
Quase não vagas em nosso antigo mar
Cambraias estendidas ao luar
No preamar de mim veleja um pouco.
Grutas azuis do corpo lapidado
Algas florindo no salivar da espuma
Pó de cristal no cintilar da bruma
Peixe pelo arco-íris polvilhado
Corpo meu estendido ao sol amante
À ternura das vagas desmembrado
Grande peixe veloz e viajado
Às infiéis marés, sempre constante.
Heis-me de volta ao sal da boca de beijo
Areia erotizada à minha escama
Amor algum deitou tamanha cama
E soube desejar tanto o desejo.
Anna Maria Dutra de Menezes de Carvalho
DELÍRIO
Quero amar verde-musgo alucinadamente
Com o amor tempestade a trovejar fremente
Rodopiando louco no vento que encrespado
Vai arrancar da terra o tronco mais cravado.
Quero amar como o rio varando enlouquecido
O barro de seu corpo no leito adormecido
A devorar faminto os prazeres das margens
Na febre dos instintos, na fuga das viagens.
Quero amar seiva-viva escorrendo alentada
A árvore gigante moradora da estrada
Quero cravar os dentes nos ramos ressequidos
Nas fôrças mais potentes de todos os sentidos.
Quero o amor dos pastos do verde deslumbrado
A subir pelo monte, erótico,encrespado
E no alto da montanha meu corpo abandonar
E entregar-me nua nos braços do luar.
Quero amar tão somente nesta diversidade
do mais contente, do amor mais saudade
Do amor honestidade suspiroso de alguém
Deste amor que em verdade nunca foi ninguém.
Eu quero o amor agreste e bestializado
Aquele amor que investe sobre o prado molhado
E num mugir sentido o seu corpo arremessa
Na ânsia dividida de desejo e promessa.
Eu quero amor lavado na água borbulhante
Da cachoeira em fúria selvática e vibrante
Gargarejando espasmos, sufocada ao martírio
Destes delírios pasmos, deste langor de lírio.
Aí quero ser eu mesma um tempo repisado
Entre o estêrco da terra e o barco sopitado
Nas patas do cavalo, nas botas do tropeiro
Quero ser esmagada pelo amor caminheiro
Estrada onde caminham as rústicas paixões
Carros de boi rangendo e touros ermitões.
Quero no roxo vivo do abrir da madrugada
Deitar-me sobre a terra e ser violentada
E depois quase morta de prazer e tristeza
Germinar em meu ventre a própria natureza.
Anna Maria Dutra de Menezes de Carvalho