No vargedão é tempo de interlúnio
Erva – pombinha morde a pedra dura
E vai beber do rio rojador.
Escura que nem breu lá vem a noite
E dentro dela boca escancarada
O ogro que Etelvina me inventou
“Come donzela
Come carneirinho
E sempre sente fome o escunjurado”
A blandícia da brisa que vagueia
Faz um perfume bom dentro do quarto
Escuto a gemeção vinda de baixo
Do carpimento à minha avó defunta.
Eu sou feliz demais para ser triste
Mordo a laranja cheia de desejo
O caldo escorre pelo queixo abaixo
A refrescar-me os seios prisioneiros,
Sumosa que nem beijo bem sugado.
Naquela casa mora o mau momento
Cheirando a vela e resedá do campo.
O boqueirão noturno me apavora
E dentro dele a saparia ativa
Enxovalha com lúbricos chamados
A compostura da morte presente.
Minha avó, bibelô de porcelana,
Descansa sobre tufos de filó.
Tive a impressão de vê-la escarnecendo
Aquele pranteado familiar
Que me obrigou virar um terço inteiro
Rosnando padres-nossos sopitados.
“Reza menina que o ogro não perdoa
Quem é hereje junto de defunto”
Etelvina de tetas gigantescas
Macumbeira, e cristã nos desacertos.
Depois plantaram minha avó no brejo
Entre os alagadiços mal cheirosos
À sombra dos salgueiros abismados,
..............................
Talvez por isso, antes chorassem tanto.
Melhor seria ter chegado o ogro
E ter levado minha avó pro longe
Junto às ossadas de seus carneirinhos
E o tédio das donzelas serenado.
Anna Maria Dutra de Menezes de Carvalho
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