Incontáveis, incontáveis dias de vivência!
Faz muito que perdi minha inocência
No sótão da casa de minha infância.
E nos jardins coalhados de cravinas
Jogamos nossas prendas de meninas
Despuradoras à infantil ganância.
No esconde-esconde, o ermo procurado
Junto ao vale do rio acelerado,
Meu Deus, quanta emoção!
Quando das bocas, descobrindo beijos
Descobrimos também nossos desejos
No sôfrego da mão.
E vai do tempo em cérele jornada
A lembrança da cosa renovada
Em coisa não de infante,
Em Paquetá a areia adormecida
E sobre o alvo plano se estendia
Um amor mais prestante.
Depois, novos desejos bestiais
Cavalgaram no lombo de animais
Assustadoramente.
Amazonas belíssimas, as primas,
Como corcéis roçavam suas crinas
Alucinadamente.
Belo do belo, em verde me espantava,
Cachoeira que erótica espumava
A adolescência nua,
E de um efêmero de paraíso
O nosso riso ria até ao ciso,
À baderna da lua.
Depois circunspectos lirismos
Contaminaram-nos a ceticismos
Dos amores de açudes.
E nossas corredeiras violadas
Por grandes diques foram sufocadas
A atitudes de beatitudes.
Dos socavões, das moitas, dos caudais,
Estas nossas heranças ancestrais
Estão nos espiando.
E nós libérrimas rumamos silentes
A metodisação dos pacientes
Até quando, até quando?..
Anna Maria Dutra de Menezes de Carvalho
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